O excesso de partidos no Brasil chega a ser vergonhoso


Publico o editorial do Jornal O Liberal, para considerações dos leitores do blog. E ressalto  a necessidade da reforma política.

Por: O Liberal
O afundamento da Petrobras no fundo de um poço sem fundo de escândalos trouxe à tona, sem disfarces, o discurso enviesado de lideranças políticas que defendem com unhas, dentes e coração o direito que teriam os partidos políticos de indicar os dirigentes de empresas estatais estratégicas.
Para esses arautos do fisiologismo, conferir aos partidos essa prerrogativa representaria uma forma de fortalecer as agremiações partidárias, de fortalecê-las e, por extensão, de consolidar a democracia brasileira. Será mesmo?
Por essas e outras alegações é que temos uma democracia à brasileira, bem à brasileira mesmo, na verdadeira - e pior - acepção do termo.
A democracia brasileira, seja bem dito, tem alcançado cada vez maior projeção no mundo. É respeitada. A democracia à brasileira, nem tanto, porque incorpora práticas que desvirtuam completamente alguns fatores essenciais para que o regime democrático se consolide verdadeiramente.
Como fator essencial para a reafirmação da democracia está o fortalecimento partidário. Mas como esperar que isso seja possível num ambiente democrático em que a função das legendas se transformou num banal exercício de proselitismo, sem outra utilidade que não a de alimentar interesses muito parecidos com os de organizações privadas?
A propósito, recentemente o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, fez uma grave advertência que, infelizmente, passou praticamente despercebida do distinto público.
A criação de novos partidos, alertou o governador, irá “destruir a democracia brasileira”. Nas últimas eleições, todavia, o tucano foi apoiado pelo maior número de legendas, 14 no total, entre elas siglas nanicas, como o PTdoB, PSC, PEN, PMN e PTN.
O candidato do PMDB ao governo paulista dispôs do maior tempo no horário eleitoral (5m52s), seguido pelo tucano (4m58s) e pelo petista (4m12s). O tempo de televisão não é determinado pelo número de legendas na aliança, mas pela representação da bancada dos partidos na Câmara dos Deputados.
Em palestra a empresários do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), Alckmin lembrou que 32 partidos disputaram o último pleito e 35 já obtiveram registro na Justiça Eleitoral.
“Isso vai destruir a democracia brasileira. É ingovernável. São pequenas e médias empresas, todas sustentadas por dinheiro público do fundo partidário. É uma vergonha nós termos chegado a esse ponto. Não há 35 ideologias. É um balcão”, advertiu o governador paulista.
Alckmin, é claro, foi questionado se havia incoerência entre as críticas ao excesso de partidos no país e o número de siglas que o apoiaram nas eleições deste ano. O tucano minimizou o grande número de legendas em sua chapa à reeleição e ressaltou que não foi o candidato com o maior tempo de televisão na disputa estadual.
“Eu não tenho o maior horário eleitoral, embora seja governador do Estado e esteja em exercício. É errado esse pluripartidarismo, porque enfraquece os partidos”, disse o governador, defendendo que o presidente eleito neste ano realize já no primeiro semestre de 2015 uma reforma política. Na avaliação dele, no entanto, ainda é cedo para mudar o atual modelo de reeleição.
A proposta de uma reforma política é antiga, insistente e óbvia. Nos últimos anos, praticamente todos os presidentes já se comprometeram a implementá-la. Todos dispuseram de ampla base parlamentar para fazê-lo. Mas a reforma política nunca saiu do papel, jamais passou dos discursos, nunca avançou além dos limites das melhores e mais nobres intenções.
Por quê? Repita-se o diagnóstico do governador de São Paulo para responder à indagação: “[Os partidos] são pequenas e médias empresas, todas sustentadas por dinheiro público do fundo partidário. É uma vergonha nós termos chegado a esse ponto.” Realmente, é vergonhoso.

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