Reforma política: de volta ao começo
Na última terça-feira, foi instalada a comissão especial – da qual
farei parte – que apreciará a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da
Reforma Política construída no âmbito do Grupo de Trabalho, nomeado
pelo então presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves, em 2013.
Recordando, as manifestações sociais nas principais cidades
brasileiras em 2013 revelaram um mal estar com o sistema político
reinante. O motor das mobilizações, na verdade, eram questões mais
concretas: qualidade da educação, custo do transporte coletivo,
mobilidade urbana e as debilidades de nosso sistema público de saúde.
A leitura das elites políticas, no entanto, foi de que o centro das
demandas era a reforma política, tema de natureza institucional, que não
fala diretamente às angústias da maioria da população. A maioria da
sociedade não tem clara percepção de que melhorando o processo decisório
haverá desdobramentos na saúde, na educação, na segurança e no bem
estar dos cidadãos. Isto não invalida a urgência de uma profunda mudança
no nosso sistema político.
Após a ocorrência das maiores movimentações de massa dos últimos 20
anos, no afã de mostrar serviço, a presidente Dilma propôs uma
Constituinte exclusiva e depois um plebiscito. Ora, como instalar um
poder constituinte com instituições democráticas em pleno funcionamento e
uma Constituição em vigor? O plebiscito também não se mostrou uma saída
adequada.
A melhor resposta veio do GT da Câmara com a PEC 352/13. Ela prevê a
regionalização do voto proporcional, a cláusula de desempenho para
conter a multiplicação artificial e perversa de partidos, o fim das
coligações proporcionais que induzem o eleitor ao erro, o fim da
reeleição, a coincidência de mandatos, o voto facultativo, a melhoria
das regras do financiamento da atividade política e um referendo em que a
população apoiará ou não as mudanças.
Vamos lembrar os objetivos essenciais de uma reforma política
substantiva: aproximar a sociedade de sua representação, aprimoramento
das regras do financiamento e fortalecimento dos partidos políticos. O
objetivo central é avançar no funcionamento da democracia brasileira. O
PT tenta transferir hipocritamente o eixo principal para o financiamento
público de campanha, como varinha de condão contra a corrupção,
demonizando as doações privadas.
O PT, nos últimos anos, foi disparadamente o que mais captou doações
privadas. A postura do PT deve estar presa a um trauma freudiano a
partir do Mensalão e do escândalo da Petrobras. Corrupção se combate é
com corrupto na cadeia.
Mal ou bem, chegamos aqui com esse sistema. Mas, ele se esgotou e
produziu uma disfunção grave. Vamos ver se a comissão especial da Câmara
consegue avançar na construção dos consensos necessários e finalmente
aprovar a tão falada reforma política.
Mas é preciso estar atento. A sociedade civil organizada tem que
participar ativamente. Não tenhamos dúvidas que é sempre possível
piorar.
CATEGORIA(s): Colunistas, Reforma política
Congresso em Foco
Comentários
Postar um comentário