402 anos de Belém


BELÉM DO PARÁ
Bembelelém! 
Viva Belém! 

Belém do Pará porto moderno integrado na equatorial 
Beleza eterna da paisagem 

Bembelelém! 
Viva Belém! 

Cidade pomar 
(Obrigou a polícia a classificar um adjetivo novo de delinqüente: 
O apedrejador de mangueiras) 

Bembelelém! 
Viva Belém! 

Belém do Pará onde as avenidas se chamam Estradas: 
Estrada de São Gerônimo 
Estrada de Nazaré 

Onde a banal Avenida Marechal Deodoro da Fonseca de todas as cidades do Brasil 
Se chama liricamente 
Brasileiramente 
Estrada do Generalíssimo Deodoro 

Bembelelém! 
Viva Belém! 
Nortista gostosa 
Eu te quero bem. 

Terra da castanha 
Terra da borracha 
Terra de biribá bacuri sapoti 
Terra de fala cheia de nome indígena 
Que a gente não sabe se é de fruta pé de pau ou ave de plumagem bonita. 

Nortista gostosa 
Eu te quero bem. 

Me obrigarás a novas saudades 
Nunca mais me esquecerei do teu Largo da Sé 
Com a fé maciça das duas maravilhosas igrejas barrocas 
E o renque ajoelhado de sobradinhos coloniais tão bonitinhos 
Nunca mais me esquecerei 
Das velas encarnadas 
Verdes 
Azuis 
Da doca de Ver-o-Peso 
Nunca mais 

E foi pra me consolar mais tarde 
Que inventei esta cantiga: 

Bembelelém! 
Viva Belém! 
Nortista gostosa 
Eu te quero bem. 

© MANUEL BANDEIRA 
In Libertinagem, 1930 

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